segunda-feira, 31 de março de 2014

Macrocosmo & microcosmo: um círculo? Indagações de von Mecking

Vamos descendo... e descendo, fazendo um zoom para dentro das estruturas materiais... e observando a repetição de padrões... algo se revela aqui.

 "The same from near as from far.

O planeta. Os continentes. As cidades.
As cidades, com suas estruturas sólidas que são ossos e órgãos, e suas ruas, que são veias, onde corre o sangue, o plasma, as células com funções específicas, os carros e as pessoas e os vírus.

As comunidades humanas, que são como aglomerados de órgãos desempenhando funções específicas: eu faço isso, você faz aquilo, e assim trabalhamos juntos, da mesma maneira que meu fígado desempenha uma função, e meu coração, outra.

As pessoas em si: com seus tecidos, órgãos, células... células e materiais transitando pelo sangue, as rodovias vermelhas da cidade biológica humana.

Mais para dentro.

O complexo de Golgi boiando na segurança do plasma em equilíbrio ácido-alcalino, no interior das paredes celulares. As enigmáticas estruturas do DNA, quebrando e refazendo.

Os átomos. Os elétrons e o vazio, a abundância de espaço vazio, até as fronteiras do núcleo.
E além? Mais uma unidade fundamental? A esperança absurda de definir um limite final para a pequeneza, a "última peça" fundamental da matéria? Delírio! Incoerência!



"Um círculo, que se torna mais complexo de acordo com a potência da lupa. Este universo é de uma complexidade infinita, mas a interpretação absoluta de sua estrutura é facultativa, depende da interpretação pessoal do ser consciente, que nada mais é do que um ponto de vista com vontade própria."

E nosso zoom metafísico segue, realizando quantas voltas quiser. E epois de muito repetir esse caminho misterioso, reto e ao mesmo tempo circular, adquirimos o entendimento de seu desenho... tão simples que nos faz sorrir.



¹"O mesmo, tanto de perto como de longe." - tradução aproximada

quarta-feira, 26 de março de 2014

Sandy Denny e a Batalha de Evermore

 Então, resolvi conhecer melhor a vocalista que participa de nossa querida canção "The Battle of Evermore", de nossa ainda mais querida banda Led Zeppelin.

Nascida em 6 de janeiro de 1947, Sandy Denny é mais conhecida por seu trabalho com a banda Fairport Convention, na qual participou de alguns dos álbuns iniciais. Seguem aqui elencados:

What we did in our holidays (1969)
Unhalfbricking (1969)
Liege & Lief (1969)
Rising for the Moon (1975)

Participou em apenas uma faixa do disco Babbacome Lee, de 1971, a canção "Breakfast in Mayfair". Contribuiu com backing vocals na canção "Rosie", no disco de mesmo nome, de 1973. Sua última participação com a Fairport Convention foi no álbum Rising for the Moon.




Aleatoriamente, resolvi baixar um de seus álbuns solo, o qual não ouvi até o momento dessa postagem: trata-se do The North Star Grassman & The Ravens. Não compreendi exatamente o título, mas a palavra grassman se refere à uma criatura semelhante ao Pé-Grande (bigfoot) que supostamente habitaria o estado de Ohio, nos EUA.

Sandy aparentemente teve sua cota de abusos químicos, não interrompendo a festa mesmo durante a gravidez de sua filha Georgia, consumindo álcool e cocaína. Após cair de uma escadaria e machucar fortemente a cabeça, ela se voltou para o analgésico Distalgesic para aliviar as fortes dores que apareceram depois do acidente.


Morreu em 21 de abril de 1978, após entrar em coma e em seguida sofrer uma hemorragia cerebral. Sandy Denny tinha 31 anos.




No mítico álbum Vol. 4 do Led Zeppelin, ela teve seu próprio símbolo incluído ao lado dos outros caracteres da banda, por sua participação em The Battle of Evermore.
 That's all, folks.



segunda-feira, 24 de março de 2014

Vila dos Confins, de Mário Palmério

Esse me fisgou já pelo começo, com nosso herói Xixi Piriá andando solitário pela caatinga, carregando sua mochila abarrotada de utilidades para comércio, e sequer imaginando ser presenteado com um valioso punhal pelo deputado Paulo Santos, mais adiante na história. Engraçado que, em algum momento no passado, lembro de ter lido o capítulo de abertura sem muita atenção... tempos depois, foi exatamente uma nova leitura distraída das páginas que me prendeu e fez continuar.

Umas das coisas que me atraiu no livro foi a narrativa agradável, bem descritiva da região dos Confins, que é basicamente a caatinga árida -  que parece um outro mundo, inóspito e romântico, pelo menos do ponto de vista de um cara nunca viajado para fora do Sul.

O enredo, além de de contar as dificuldades da realização da primeira eleição na Vila dos Confins (traições, subornos, estratégias e peregrinações pelas estradas e vilarejos miseráveis) abre momentos muitos interessantes para "causos" contados pelos personagens, o que, imagino, tenha sido a maneira do autor de expandir sua descrição do mundo da caatinga, as pessoas e personalidades, o estilo de vida, humana e selvagem. Temos cobras, piranhas e onças, tudo num clima pescaria-e-cachaça e muita atenção aos truques e artimanhas da fauna, que luta pela sobrevivência e vez ou outra causa problemas aos vaqueiros e seus rebanhos, praticamente proporcionando o surgimento de lendas e contos fantásticos.

A narrativa de Mário Palmério é abundante em palavras e expressões regionais, tornando a leitura exigente para o leitor acostumado à um vocabulário mais simples; mas acredito que não atrapalhe a narrativa, bastando um pouco de interpretação e imaginação, tornando assim a leitura rica e diferenciada... em tempos de best-sellers acelerados, essa leitura é quase uma bizarrice. Mas enfim, eram outros tempos, outros autores e outra cultura. Um bocado de intelectualismo, disfarçado, e regionalismo, esse escancarado desde o começo.

Nenhuma citação por aqui, mas se fosse incluir, acho que seria do capítulo sobre os habitantes do garimpo, vivendo de rapadura, fumo e cachaça, em galpões miseráveis, mas absortos no peneirar das rochas, em busca de ouro, que uma hora ou outro, brilha no meio dos sedimentos do leito do rio.

E é isso! Vila dos Confins, de Mário Palmério. Desconfio que os escritos à caneta na primeira página sejam um autógrafo do próprio autor, o que não é de duvidar, se tratando de um livro da pequena biblioteca de meu pai, essa que já me forneceu tanta coisa e que ainda continuo explorando sem pressa com o passar dos anos - além de ir formando a minha própria, é claro.

Do mesmo autor, localizei ainda Chapadão do Bugre, que promete ser obra igualmente interessante, mas não sei se vou encarar essa sequência... tenho outros livros na fila, e no momento, estou indeciso diante dum monstrinho escrito por autor que já conheço, esse  difícil Umberto Eco.

No futuro, retorno à caatinga.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Não sei bem o que é um equinócio

Diz ali no Google que hoje é o Primeiro Dia de Outono. As folhas douradas e tal.

Detesto calendário, relógio, despertador, datas e celebrações. Não gosto dessa divisão mecânica do tempo, porque nos dá uma idéia de tempo "passando", tempo "perdido ou ganho", etc.

Nada disso existe.
Gostaria de viver apenas pelo subir e descer do sol, o lento andar das estações, e só. Claro, haveriam algumas complicações, mas acho que seria mais interessante. Aplicar números ao fenômeno da luz e temperatura... bom, isso é um entre inúmeros costumes bizarros que caracterizam essa nossa época.

(...)

Data de nascimento: outra chatice. Garanto que seríamos mais felizes sem ter "idade".

Bem-vindo, outono.




quarta-feira, 19 de março de 2014

Cobra-de-fogo

Calafrios! Desconfiança!
Pois foi num dia que nem esse, com essa chuvarada e essa cara sombria, que veio a Grande Escuridão, a noite sem fim que cobriu o pampa em tempos muito, muito antigos...

Primeiro, veio a chuva, que fez os córregos transbordarem, e encurralou os animais no topo das colinas... muitos se afogaram, grande foi a mortandade...

E a boiguaçu, a cobra-grande temida pelos índios, ficou furiosa com a inundação da sua toca, e saiu catando carniça dos bichos afogados - gulosa ela era, mas somente pelos olhos; espremia os corpos mortos até lhes saltarem das órbitas, e assim a cobra ia vagando campos úmidos, aproveitando a fartura de carniça, como príncipe degustando cacho de uva.

E na noite sem fim, os homens, tristes, sem churrasco, só ouviam o canto do téu-téu anunciando a cobra enlouquecida de fome rondando os rebanhos - pois os olhos, apesar de saborosos, não dão sustância, e a boiguaçu foi ficando luminosa, por dentro, um fogo frio como chama azulada, meio transparente, pavoroso de se ver no meio do campo...

Boiguaçu virou cobra-de-fogo, boitatá! E quando finalmente veio o dia, ela já morta, era só fogo-fátuo pra assustar vaqueiro perto dos banhados...

Mas não se engane: chuvarada, quero-quero preocupado, cuida teu rebanho... que a cobra-grande vêm rondando...

segunda-feira, 17 de março de 2014

"Mas quando se tem grandes idéias..."

"Como acontece com boa parte dos quietos, ele gostava das pessoas conversadeiras quando elas se dispunham a falar e não esperavam que ele correspondesse. (...) Mas a bruxinha sardenta que tinha ao seu lado era muito diferente e, embora achasse muito difícil acompanhar os efervescentes processos mentais da menina com sua inteligência mais vagarosa, ele percebeu que "meio que gostava do palavrório dela". E por isso disse, com a mesma timidez de sempre:
     - Oh, pode falar quanto quiser. Eu não me importo."
 Anne de Green Gables - L.M. Montgomery


No meu caso, geralmente estou escondido atrás de um Hollywood, acenando a cabeça e tentando captar os traços de personalidade mais marcantes, aqueles que saltam através da conversa casual das pessoas. Muitas vezes me pergunto se elas se dão conta disso, de como tanta coisa se revela em suas frases, na escolha de palavras, no tom de voz...
Aliás, nem é preciso "captar" nada - o retrato geral da pessoa se revela espontaneamente. Aí você fica pensando nos interessantes processos mentais que devem se passar por trás de tudo isso. Os anos passam, e os amigos mais antigos se tornam os quadros mais complexos, com mais tons, com mais profundidade, os detalhes vão acrescentando. As brigas tem mais argumentos, as comemorações são mais íntimas, e o humor é mais absurdo. A amizade antiga tem mais dimensões, mais contexto sentimental.

O que? Sim, claro que eu estou inventando tudo isso. Claro. (pigarro) Mas, inventado ou não... o interesse de pesquisador é o mesmo.
Lá do alto da minha torre.


quinta-feira, 13 de março de 2014

Livros e intervalos

"Matthew temia todas as mulheres, com exceção de Marilla e da sra. Rachel. Tinha a sensação de que essas criaturas misteriosas riam dele em segredo. Talvez não estivesse muito longe da verdade, pois ele era uma personagem de aparência estranha e desajeitada, com cabelos compridos e grisalhos que lhe roçavam os ombros caídos e com a mesma barba castanha e cerrada que ele cultivava desde os vinte anos. Na verdade, sua aparência aos vinte não fora muito diferente de seu aspecto aos sessenta, exceto pela ausência de cabelos brancos."
Anne de Green Gables - L. M. Montgomery

Começando bem com a nova companhia de almoço aqui no trabalho - novos e interessantes livros ali na sala ao lado. Ao meio-dia, isso aqui é uma terra de sol e silêncio e árvores até o horizonte... "Ideal!", você diria... mas te conto, esse cenário dura pouco. Daqui a pouco o local já começa a enxamear com os pequenos alto-falantes sobre pernas - crianças. Elas me dão arrepios... imagino que a sensação seja recíproca, hehehe.

Mas, enquanto isso, vamos almoçando banana e bebida láctea sabor chocolate super-saborosa-e-cremosa.

"We must eat a peck of dirt before we die."

quarta-feira, 12 de março de 2014

Black cup of doom


Eu tenho uma xícara preta. Ela brilha, sombria, sobre a minha mesa.

Ela me acompanha no ritual matutino, me coloca no mood das manhãs agora mais frias. Me salva ao meio-dia, e me observa durante a longa tarde, suando com gelo por dentro.

Quente ou fria, congelando, exalando vapor... ela é sólida e se presta a todas as minhas sedes (que são tantas). É espaçosa,  tem o peso certo na mão. Demarca meu território na mesa, anuncia minha identidade sem rótulo ou enfeite, apenas cor e textura, do jeito que eu gosto.
Ocasionalmente, molha minha barba, talvez ofendida com bolhas de gás ou mudanças bruscas de temperatura.

 Dona de um brilho sombrio - me faz companhia com seus conteúdos secretos.