quinta-feira, 5 de junho de 2014

Humanidades

 Achando que era preciso se deslocar mais rápido que o vento e a chuva, montaram sobre um animal que pudesse carrega-los estrada afora. E depois, resolveram mesmo andar onde estavam o vento e a chuva, andando em máquinas monstruosas que se jogam pelos ares, ocasionalmente, matando-os às centenas.

E porque resolveram ir ao trono em vez de ir aos pés, construíram complicados artefatos de cerâmica para receber suas sujeiras, e ao mesmo tempo, um complicado sistema de levar a sujeira para bem longe, pois no palácio asséptico do homem, qualquer odor aparece. A natureza agora era suja, cheio de seres invisíveis prontos a corromper sua saúde. Era preciso manter uma santa distância.

E porque suas vidas tornaram-se enfandonhas, tediosas e repetitivas, voltaram-se com gula obsessiva para as artes e a fantasia, lapidando-as ao nível da perfeição para vivenciar histórias mágicas, aventuras, perigos e grandes façanhas... pois cada vez mais isso faltava à vida real.

E porque o solo e o ar e os alimentos perderam seu vigor, exaustos pelos duros trabalhos de produzir sem cessar, passaram a alimentar-se de venenos picantes, falsos alimentos e vitaminas artificiais. Comer tornou-se uma atividade matemática.

De fato, os números agora estavam em toda parte! Limitando, ordenando, registrando, separando e distribuindo. Entre aqueles que os tornaram uma instituição.

E assim por diante. Novas estruturas artificiais feitas para lidar com os problemas das antigas. Camada sobre camada de distanciamento.

E em todas as épocas, poucos dentre eles pareciam se dar conta de que aquele caminho não era único e obrigatório; de que as coisas poderiam ser diferentes. 

Mas afinal... ninguém quer ficar embaixo da chuva, chupando ossos secos.





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