sexta-feira, 25 de abril de 2014

Notas sobre o Pira Rural

Existe um vale místico, a certa distância daqui...e fica em Ibarama. Mais especificamente, na cascata do Pira Rural. Mas esse vale não tem máquinas, nem é polo metal-mecânico; tem pessoas, muitas pessoas, pessoas diferentes, bonitas, pessoas de toda parte.




Sexta-feira, saímos cedo, com tudo já pronto na noite anterior: empacotados, bem-dormidos (na verdade, nem todos heheh), e enfim, reunidos na kombi que dessa vez foi espaçosa pelo familiar trajeto em direção à Sobradinho e depois Ibarama, e depois aquela mítica descida pedregosa para o vale oculto, talvez uma grande tigela com árvores nas bordas. Algo assim.

Logo na entrada, avistei duas borboletas azuis semelhantes às que temos aqui em Panambi - considerei bom presságio.

Na hora de subir no palco, a sensação familiar de ansiedade e uma excitação positiva de "chegou a hora de mostrar." Os ponteiros da afinação não queriam colaborar muito, mas enfim subimos. Som forte, aplausos, cerveja, e pronto. O resto é curtir e tomar aquele trago forte pra dormir direitinho.
Dormir? Minto. Os corujões se revelam já na primeira noite... e pagam o preço no dia seguinte. E vão parcelando nos outros dias. Dormir, entre acampamento e festival, é de menor importância.


Pra mim, as melhores surpresas nesse festival: Mar de Marte e Célula Soul. Não sou muito o cara de ficar vidrado na frente do palco - geralmente estou ocupado consumindo drinks variados no acampamento - mas essas bandas aí realmente me chamaram a atenção. Em especial a Mar de Marte, som pesado, psicodélico, viajante e diferente... muitas bandas desse meio prezam demais pelas levadas "jam", um pentatonismo que se torna meio cansativo as vezes.Mas nada que magoe os ouvidos admirados. Aliás, o melhor sempre é estar entre essa coletânea de bandas de atitude independente e descontraída, todos querendo mostrar aquilo que prepararam pro público carinhoso do festival.

Depois da Célula Soul, veio a Rinoceronte... aquela bala de canhão sonora que são os caras.Momentos de reverência geral do público!

Já não lembro a sequência exata de bandas e fatos e diálogos, mas tivemos ainda um Dziw Jazz Trio alcalinizando os ouvidos jazzísticos do público, sempre extraindo gritos e aplausos animalescos de admiração, diante de um som tão sofisticado.

Tivemos o Max Sudbrack no palco livre se insinuando pelo Dark Side of The Moon na maior tranquilidade... acho que esse cara dorme no lado negro da lua, debaixo de um piano. Só pode.

"Os anjos também morrem", creio que era esse o nome da peça apresentada por um duo "entre-bandas"... me trouxe muita inspiração pros meus próprios projetos atuais, com a idéia do mito do ser de luz que cai na escuridão da humanidade. A cena final da criatura sufocando a si própria num casulo distorcido me arrancou arrepios e ficou na memória. Eu que costumo torcer o nariz pra teatro, mas com uma trilha de cello daquelas... muito interessante.

No último dia, me arrisquei com alguns amigos na água gelada da cascatinha... realmente, só me permiti arriscar, porque me atingiu como facas de gelo nessa minha carcaça magra. Mas, ao contrário da maioria dos meus amigos, que dizem voltar "renovados" do festival, pelo contato com a música, natureza e amigos, eu geralmente volto desgastado, com uma sensação de vazio. Não sei dizer bem o porquê; algum tipo de reação do meu lado fóbico-social.

Em compensação, valeu o hipnotismo das paredes de pedra da cascatinha, os contornos florestais do vale e os declives de relva. Existe um espírito sutil ali, que sorri para os seres falantes e risonhos habitantes da madrugada fria. O cenário domina.


Quem quiser conferir os registros visuais e ter uma idéia da paisagem, já tem uma enxurrada de fotos no Facebook. Vão lá.

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