Existe um vale místico, a certa distância daqui...e fica em Ibarama. Mais especificamente, na cascata do Pira Rural. Mas esse vale não tem máquinas, nem é polo metal-mecânico; tem pessoas, muitas pessoas, pessoas diferentes, bonitas, pessoas de toda parte.
Sexta-feira, saímos cedo, com tudo já pronto na noite anterior: empacotados, bem-dormidos (na verdade, nem todos heheh), e enfim, reunidos na kombi que dessa vez foi espaçosa pelo familiar trajeto em direção à Sobradinho e depois Ibarama, e depois aquela mítica descida pedregosa para o vale oculto, talvez uma grande tigela com árvores nas bordas. Algo assim.
Logo na entrada, avistei duas borboletas azuis semelhantes às que temos aqui em Panambi - considerei bom presságio.
Na hora de subir no palco, a sensação familiar de ansiedade e uma excitação positiva de "chegou a hora de mostrar." Os ponteiros da afinação não queriam colaborar muito, mas enfim subimos. Som forte, aplausos, cerveja, e pronto. O resto é curtir e tomar aquele trago forte pra dormir direitinho.
Dormir? Minto. Os corujões se revelam já na primeira noite... e pagam o preço no dia seguinte. E vão parcelando nos outros dias. Dormir, entre acampamento e festival, é de menor importância.
Pra mim, as melhores surpresas nesse festival: Mar de Marte e Célula Soul. Não sou muito o cara de ficar vidrado na frente do palco - geralmente estou ocupado consumindo drinks variados no acampamento - mas essas bandas aí realmente me chamaram a atenção. Em especial a Mar de Marte, som pesado, psicodélico, viajante e diferente... muitas bandas desse meio prezam demais pelas levadas "jam", um pentatonismo que se torna meio cansativo as vezes.Mas nada que magoe os ouvidos admirados. Aliás, o melhor sempre é estar entre essa coletânea de bandas de atitude independente e descontraída, todos querendo mostrar aquilo que prepararam pro público carinhoso do festival.
Depois da Célula Soul, veio a Rinoceronte... aquela bala de canhão sonora que são os caras.Momentos de reverência geral do público!
Já não lembro a sequência exata de bandas e fatos e diálogos, mas tivemos ainda um Dziw Jazz Trio alcalinizando os ouvidos jazzísticos do público, sempre extraindo gritos e aplausos animalescos de admiração, diante de um som tão sofisticado.
Tivemos o Max Sudbrack no palco livre se insinuando pelo Dark Side of The Moon na maior tranquilidade... acho que esse cara dorme no lado negro da lua, debaixo de um piano. Só pode.
"Os anjos também morrem", creio que era esse o nome da peça apresentada por um duo "entre-bandas"... me trouxe muita inspiração pros meus próprios projetos atuais, com a idéia do mito do ser de luz que cai na escuridão da humanidade. A cena final da criatura sufocando a si própria num casulo distorcido me arrancou arrepios e ficou na memória. Eu que costumo torcer o nariz pra teatro, mas com uma trilha de cello daquelas... muito interessante.
No último dia, me arrisquei com alguns amigos na água gelada da cascatinha... realmente, só me permiti arriscar, porque me atingiu como facas de gelo nessa minha carcaça magra. Mas, ao contrário da maioria dos meus amigos, que dizem voltar "renovados" do festival, pelo contato com a música, natureza e amigos, eu geralmente volto desgastado, com uma sensação de vazio. Não sei dizer bem o porquê; algum tipo de reação do meu lado fóbico-social.
Em compensação, valeu o hipnotismo das paredes de pedra da cascatinha, os contornos florestais do vale e os declives de relva. Existe um espírito sutil ali, que sorri para os seres falantes e risonhos habitantes da madrugada fria. O cenário domina.
Quem quiser conferir os registros visuais e ter uma idéia da paisagem, já tem uma enxurrada de fotos no Facebook. Vão lá.
sexta-feira, 25 de abril de 2014
quinta-feira, 17 de abril de 2014
Conselho para nós, peregrinos do feriado de Páscoa
"A good traveler has no fixed plans
and is not intent upon arriving.
A good artist lets his intuition
lead him wherever it wants."*
and is not intent upon arriving.
A good artist lets his intuition
lead him wherever it wants."*
Laozi, filósofo taoísta
Quase hora de partir: juntar a bagagem, calcular o dinheiro, olhar com suspeita a previsão do tempo. Escolher quais roupas voltarão imundas. Resumir tudo em uma mochila.
E não esquecer do cigarro.
*Um bom viajante não tem planos fixos e não tem a intenção de chegar. Um bom artista deixa sua intuição guia-lo para onde quiser.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
sexta-feira, 4 de abril de 2014
Quarto Ácido no 5º Pira Rural me leva a refletir
Mais uma vez, nós.
Este festival é simplesmente muito bonito. Já fazem alguns anos que eu, meus amigos e colegas de banda viajamos para lá, para passar alguns dias de insônia em barracas úmidas.
A paisagem é mística, a bebida é abundante e as pessoas são bonitas e interessantes. Sempre que vou para lá, fico com um sentimento de estar indo embora da máquina, para permanecer alguns dias vivendo escondido numa comunidade paralela à sociedade comum.
Daí, estando lá, você perde a noção do tempo - e essa é uma nobre sensação, nessa época em que vivemos. Relógios, calendários, cronogramas, despertadores, dias da semana, meses do ano... tudo isso, mecanização de uma idéia estranha que, na minha opinião, nos proporciona basicamente intranquilidade.
Queria apenas o nascer e o pôr-do-sol como referência! A suave mudança das estações, os hábitos da fauna e a fisionomia da flora. Não quero e não necessito ter uma idade e um aniversário; não reconheço datas comemorativas - a chegada da primavera e do outono são festivas o suficiente.
Quarto Ácido tocando "Psycodelic Pilger"
Praça central da Cidade das Máquinas
Despertar todos os dias num susto, com um ruído estridente, mesmo nas manhãs mais frias de
inverno.
Devorar uma farta refeição no horário mais quente dos dias de verão, para depois desfalecer sem forças devido ao calor e ao esforço estomacal.
Sentar em cadeiras.
Sustentar uma "medicina" que trata os sintomas e não as causas.
Entre outros absurdos.
Pra mim, o povo que pratica tais hábitos está sufocando a si próprio com uma habilidade mórbida. Está insano. E está condenado, apodrecendo de dentro pra fora.¹
Por agora, essa tribo vai (...)² fugir pro vale, pra cascata. Passar uns dias numa dieta de carne, cerveja, música e tabaco. Faz de conta que é uma detox com senso de humor.
¹Mas seremos nós a geração a ver as Grandes Mudanças.
²Fugir pelo asfalto... seguir a estrada velha.. .encontrar o vale oculto, que recebe o visitante com uma íngreme estrada de pedras...
terça-feira, 1 de abril de 2014
Lady Grey (4 & 20)
"A palavra folclore vem do inglês folk (povo) e lore (estudo) e significa o conjunto de tradições de um povo que é transmitido oralmente de geração em geração."
Carreguei essa citação comigo num pedaço de papel em minha carteira, até que foi perdido em circunstâncias irresponsáveis em alguma cidade longínqua. Porém, a tinta do papel acabou ficando gravada no envelope plástico em que estava guardada (estes onde guardamos nossos documentos), o que me permitiu transcreve-la aqui. É simples e bonita, motivo que me levou a guarda-la.
Hoje irei conhecer Lady Grey.
Lady Grey é um chá da marca Twinings, que tem mais de 300 anos. É feito com chá preto, laranja e limão, e vem numa bonita caixinha azul. Pelo nome, acho que pretende ser a contraparte do Earl Grey, clássico chá britânico que conheci do filme 007: Skyfall. (não sou grande conhecedor da série, mas curto muito o Daniel Craig no papel.)*
Ou seja, vamos provar um pouco de chá folclórico. Afinal, se as pessoas estão tomando isso por 300 anos ou mais, pode-se dizer que é uma tradição oral, certo? hehehe...
E a série 007 já não tem dezenas de filmes?
Só pela hora do chá.
*E nem sou um grande conhecedor de chás. Só o que entendo é um vício em cafeína que já tem uns 15 anos, vivendo de café. Pelo menos larguei os energéticos.
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