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"O sistema é antigo como a humanidade. Ainda que seja mais conhecido pelos títulos em latim, sua origem é incerta e indica raízes no ocultismo do Oriente, e mesmo na pré-história. Os primeiros xamãs de tribos primitivas teriam aprendido seus rudimentos com a mera observação das próprias mãos, durante rituais que provavelmente envolviam o uso de plantas enteógenas, abrindo assim o caminho para a interpretação mágica da anatomia dos dedos, linhas e palmas. Com a abertura do pensamento criativo propiciada pelas ervas alucinógenas, seria possível "ver" um livro que se desdobra ao longo dos dez dedos das mãos, num caminho imaginário extendendo-se no sentido da mão esquerda para a direita."
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"O sistema é comumente simplificado comparando-o a um livro de dez capítulos, por alguma razão sempre indicados pelos números romanos que, dizem alguns autores, aprofundam sua simbologia."
"O mago errante Abdul Alhazred teria estudado esse sistema, muito antes de compôr seu Necronomicon, antes ainda ser apelidado de Árabe Louco. Ele explica, numa fórmula simplificada: dispôe tuas mãos diante de ti, com as palmas voltadas para cima, os dedos mínimos quase se tocando, como se estivesse segurando um livro invisível. Relaxa os dedões e deixa-os apontarem para fora. Começa a interpretar, começando pelo dedão esquerdo. Ele é a planície onde habitas, onde nada acontece. É a vida rotineira, uma terra nua que está germinando os grandes acontecimentos por vir. A seguir, começa tua escalada montanha acima, o início das atribulações, pelo teu indicador. Enfrenta perigo e dúvidas. Atinge o clímax, o desespero, a visão do abismo, no topo da montanha - o dedo médio.
O portal está aberto diante de ti. Te joga, e tua queda é o dedo chamado de anelar, em direção ao Desconhecido. Atinge o fundo da terra desconhecida, desaparece do mundo- essa é a viagem pela Treva, uma jornada em duas etapas, pois os dedos mínimos estão dispostos num par. Pula de um para o outro quase sem perceber: uma mudança sem volta se operou na tua jornada. Ganhaste um novo poder, e com ele, sai triunfante do escuro e dos perigos. Levantas vôo, pelo dedo anelar da mão direita, e atinge novo conhecimento. É a agora rei sob a Montanha, é teu segundo grande momento. Desce do dedo médio, montanha abaixo, pelo indicador direito. As pessoas que te vêem descendo já não podem dizer que o homem que subiu é o mesmo que desce... algo mudou. Volta para o teu povo, para a planície de tua origem, mudado, essencialmente mudado. Esta é a misteriosa alquimia que se desenrola ao longo da vida dos seres, sob múltiplos disfarces e diferentes caminhos, ciclos de estagnação e abalos, nem sempre compreendidos."
A Cosmologia Chinesa*
"O Libro Decem Capitula possui, como dissemos no começo, ligações com o Oriente, em especial com a cosmologia chinesa e seu sistema de cinco elementos naturais. Os cinco elementos são madeira (wood), fogo (fire), terra (earth), metal (...) e água (water). Eles são dispostos nesta sequência citada, em pares, abrangendo as dez posições. Assim, postos paralelamente à sequência de eventos do Sistema, os sábios orientais trouxeram uma nova interpretação da "jornada de dez passos". Ela se converte para a seguinte sequência de eventos:I. (Madeira) - O plano horizontal, neste novo contexto, ganhou o significado de reunir a madeira.
II. (Madeira) - Começa a ascensão vertical, portanto carregar a madeira montanha acima.
III. (Fogo) - Atear fogo à madeira, grande fogo no topo da montanha.
IV. (Fogo) - O fogo se apaga.
V. (Terra) - Restam apenas as cinzas.Soprar as cinzas, limpar a terra, revelar.
VI (Terra) -Escavar a terra, cometer uma violação profana mas de intenção pura. Encontra-se o metal nas profundezas.
VII. (Metal) - O metal é trabalhado em um instrumento de poder; a seção referente ao metal pode ser bastante metafórica, referindo-se talvez a um conhecimento apenas interno. O metal serve como símbolo para força, para uma arma de ataque temível, e também como transmutação alquímica, característica da natureza maleável dos metais.
VIII.
IX.A água desce na forma de cascata retumbante.
X. A água desceu seu caminho montanha abaixo, como uma cascata ou um rio caudaloso, atingindo a planície. Fertilização, manifestação de nova vida, alagamento."
*Alguns estudiosos criticam este suposto paralelismo como excessivamente inventivo, fantasioso ou apenas complicado.
Sexus
"Nesse ponto da leitura, deve ficar óbvio ao estudante que o sistema todo possui uma conotação sexual. O "vale oculto entre as montanhas" tem sido frequentemente interpretado como a região íntima entre as pernas da mulher, e o próprio dedão como um falo que se levanta numa jornada que nada mais é do que o ato sexual, levado ao clímax para depois se deitar novamente. Note-se que o clímax é atingido duas vezes, com um intervalo de relaxamento, uma queda na obscuridade onde o espírito se perde no esquecimento de uma terra misteriosa, onde adquire um conhecimento mágico que lhe permite levantar-se novamente e atingir um segundo e verdadeiro gozo, este agora pleno e dotado de um entendimento superior, talvez até lhe concedendo poderes sobrenaturais. O Sistema não está distante dos conhecimentos tântricos indianos."Próximos trechos: dos usos do Sistema - O Sistema disposto em cartas de adivinhação